Efeitos e mitigação das mudanças climáticas na agricultura: uma questão de sobrevivência
Evento promovido em Teófilo Otoni debateu os riscos das mudanças climáticas para a atividade agropecuária
Apesar das controvérsias, as mudanças climáticas são uma realidade e se não forem combatidas trarão muitos prejuízos sociais, ambientais e econômicos a nível mundial. E com certeza as atividades que mais sofrerão as consequências do aumento do efeito estufa são aquelas que dependem diretamente dos recursos naturais, principalmente a agropecuária.
Segundo o engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Alexandre Viera da Costa, nós não podemos fechar os olhos para alguns acontecimentos climáticos que estamos percebendo já há algum tempo, não em curto prazo, mas a médio e longo. “Conversando com pessoas mais velhas é possível perceber que estão espantados com o que vem acontecendo com o clima em suas regiões”, disse.
Alguns pesquisadores afirmam que essas alterações são normais em um planeta com bilhões de anos, mas para Costa, essas mudanças estão ocorrendo muito mais rápido do que períodos anteriores. “Não precisamos ir muito longe para observar situações extremas ocasionadas pela elevação da temperatura global. Aqui mesmo na região do Vale do Mucuri é possível observar uma situação de degradação alarmante: pouca vegetação e o que resta são pastagens em processo de erosão”, afirmou o docente.
Isso também influencia diretamente na gestão dos recursos hídricos, cujos rios da região antes com altas vazões, estão sofrendo com a demora na reposição de suas águas, devido a extensas secas e superutilização para abastecimento urbano e irrigação de lavouras. “Cidades tiveram que suspender a outorga para irrigação de algumas propriedades porque senão ficariam sem volume de água suficiente para abastecer sua zona urbana”, destacou Costa.
Efeitos diretos na Agropecuária
No Brasil, as secas, normais nos períodos do inverno, estão mais prolongadas e isso não é um fator local. Segundo pesquisa publicada no Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) em 2013, a superfície terrestre apresentou acelerado aumento de temperatura nos últimos 30 anos o que influencia na redução da quantidade de chuva a ser esperada. Para o professor, a situação do produtor rural é muito mais complexa do que se imagina. “Nas condições de seca, os animais e a vegetação são os que mais sofrem e isso significa baixa produtividade. Estresse vegetal e a perda de peso nos animais são algumas das muitas consequências que vem com as alterações climáticas”, enfatizou.
Mas existem técnicas que podem mitigar esses efeitos, isto é, reduzir seus impactos na agropecuária. A recomposição de florestas nativas, recuperação de áreas degradadas e Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF) são importantes meios de se produzir com baixa emissão de carbono. “O combate aos efeitos do aquecimento global, deve ser imediato pois serão necessários vários anos para que se estabilizem. E o homem do campo, que vê suas terras degradadas e seus animais fracos e famintos é um dos principais personagens nessa luta”, disse.
Ainda segundo o engenheiro agrônomo, é necessário que também haja uma compensação financeira para o produtor que se dispõe a preservar e recompor parte de sua área produtiva. “Preservar nascentes, reflorestar, tudo isso são serviços que geram benefícios para toda a sociedade e devem ser devidamente recompensados”, analisou.
Compensação financeira e ambiental
O pagamento por serviços ambientais é um incentivo que alguém recebe por preservar e conservar os recursos naturais ou utilizá-los de maneira sustentável. E esse é uma das metas definidas pelo Projeto Rural Sustentável (PRS), executado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em conjunto com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e financiado pelo governo do Reino Unido.
O objetivo é melhorar a gestão dos recursos naturais e uso da terra em pequenas e médias propriedades, localizadas em 70 municípios inseridos nos biomas Mata Atlântica e Amazônia. O Projeto tem como base o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e suas tecnologias de mitigação. A ideia é multiplicar as boas práticas já utilizadas em algumas propriedades visando a redução dos efeitos das mudanças climáticas com o aumento de produtividade para esses produtores.
Além do pagamento pela implantação ou manutenção da tecnologia, o PRS também capacita os participantes por meio de Dias de Campo, Seminários, Workshops e Oficinas. Os Dias de Campo são atividades importantes para aproximar os técnicos dos proprietários rurais. É o momento onde eles podem sugerir e tirar suas dúvidas sobre o projeto e as técnicas a serem implantadas.
Recuperação de áreas Degradadas
Uma das tecnologias de mitigação contempladas pelos Projeto Rural Sustentável, é a Recuperação de Pastagem Degradada (RAD-P). Segundo o médico veterinário e assessor técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), Gilson Santos Júnior, em Minas Gerais, 45 milhões de hectares são de pastagens, o que representa quase metade da área do Estado. Desses, 75% são considerados como moderados ou altamente degradados. “Isso é preocupante, porque reflete em vários aspectos, principalmente com alta perda de produtividade e rentabilidade. A bovinocultura é uma das principais atividades econômicas da região e essa perda de rendimento afeta diretamente a condição econômica do produtor e de quem depende dele”, alertou.
Um dos grandes problemas é o manejo inadequado do solo, por falta de conhecimento ou questões culturais. “Além da seca, queimadas, excesso de animais por área entre outros, são motivos para que o solo perca a fertilidade e seja alvo da erosão, muitas vezes formando voçorocas (formação de grandes buracos causados pela água da chuva e intempéries em solos onde a vegetação não protege mais o solo)”, disse Gilson Santos.
Existem vários sistemas de RAD-P que podem ser implantados a baixo custo e com alta efetividade, mas para isso é preciso que o produtor busque o conhecimento técnico por meio das empresas de extensão e pesquisa agropecuária. “É importante apresentar essas técnicas ao produtor para que ele perceba que com o manejo não se perde água e solo, sendo possível recuperar áreas que estão degradas há vários anos”, finalizou.